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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tão verdade!

"E se nós, portistas, vivemos todos os «defesos» com o credo na boca, no terror de abrirmos o jornal de manhã e verificar que lá venderam mais uma das jóias da Coroa, a compensação que temos é a de seguir a época de aquisições do Benfica.
Nunca um pobre fez tão tristes figuras de novo-rico como o Benfica faz todos os anos.
E este ano, apesar de Rui Costa ser de outra categoria e outros hábitos, aquele estilo grandiloquente já está de tal maneira entranhado nos procedimentos da casa, que tudo tem seguido o roteiro habitual:— primeiro e em grandes parangonas, anuncia-se que o Benfica está interessado em algum grande jogador da categoria B (a categoria B é a dos que têm nome internacional mas não jogam nos respectivos clubes);— passados uns dias, aparece o jogador em causa, o empresário, o pai, o vizinho de infância ou o canário, a jurarem que ele está entusiasmado com a hipótese de ir para o Benfica;— passados mais uns dias, dá-se conta de que o Benfica já apresentou uma proposta pelo jogador e que só falta «limar algumas arestas com o clube»;— mais uns dias, e os adeptos benfiquistas são informados de que «já há acordo pleno com o jogador»;— no dia seguinte, inesperadamente, descobre-se que há um terceiro clube que também está interessado no jogador, mas que o Benfica já tem uma alternativa preparada para o caso de as negociações falharem;— oh…o homem fugiu mesmo para o tal terceiro clube e, aparentemente, não foi triste. Avança, então, o nome da alternativa: um jogador de categoria C (a categoria C corresponde a um jogador que ninguém sabe quem é, mas que Pelé garantiu que era um novo Maradona ou Maradona garantiu que era um novo Pélé);— anuncia-se que o Benfica, «agindo rapidamente e adiantando-se à concorrência», garantiu a aquisição do novo Pélé;— o novo Pelé desembarca em Lisboa e, de voz própria ou através do seu empresário, trata logo de jurar que o FC Porto também tinha tentado contratá-lo, mas que ele preferiu o Benfica.
Não tardará a perceber-se porquê."

in jornal “A BOLA” de 2008.07.01